O quadro abaixo foi feito com lápis 4B, 6B e 8B da Faber Castel sobre um papel canson da Strathmore Artist Papers com 1 metro de altura. É a representação de um soldado de barro chinês. Um guardião da eternidade de Qin Shihuangdi, o primeiro imperador da China. Após a unificação, o imperador iniciou uma série de reformas políticas e sociais com enormes construções que incluem a muralha da China e o seu próprio exército de barro. Apesar de ser conhecido como o fundador da China unificada. Qin Shi Huang Di também é lembrado como um terrível tirano autocrático.
O guerreiro de terracota representado no desenho acima é apenas um dos milhares de soldados, armas, cavalos e outros acessórios de guerra descobertos na China em 1974. Mais precisamente 8.000 soldados, 130 vagões, 520 cavalos e 150 cavalaria. O exército pertencia ao primeiro imperador chinês Qin Shihuangdi, que procurava várias formas de controlar seu império e até mesmo sua própria morte. O exército de guardiões da eternidade foi enterrado com seu corpo para protegê-lo da vingança de suas vítimas na vida após a morte, principalmente dos incontáveis mortos na construção da grande muralha da China. Como todo líder totalitário, Qin Shihuangdi buscou controle absoluto e viu nos livros e nos intelectuais uma ameaça. Por volta de 213 a.C., ele ordenou uma enorme queima de livros que preservavam grandes ideias da filosofia, sociologia e história, especialmente o confucionismo.
As queimadas de livros eram e ainda são comuns na história da humanidade. No Egito, o faraó Akhnatón, marido da rainha Nefertiti (primeira obra de arte da minha coleção Arte e Antropologia), ordenou uma grande queima de papiros, extinguindo cerca de 75% da literatura existente e a implantação de uma nova religião monoteísta no Egito.
E a história se repete ao longo dos milênios. A destruição da biblioteca de Alexandria representou uma das maiores perdas de conhecimento da humanidade. A Inquisição queimou tanto os trabalhos quanto seus autores com o propósito de combater a heresia. Os nazistas nos anos 1930 caçaram e queimaram livros de Thomas Mann, Freud, Einstein, Marx entre muitos outros como uma forma de controle ideológico. Estes são apenas alguns exemplos de líderes que se levantaram contra o questionamento filosófico e o próprio conhecimento. A história nos mostra como é fácil entender por que o conhecimento é tão ameaçador para os tiranos.
A filosofia, como a ciência em geral, nos ensina não apenas a questionar, mas a avaliar a realidade ao nosso redor. A política e a religião são muito vulneráveis ao questionamento filosófico. É compreensível que formas de autoritarismo tenham as universidade e os intelectuais como inimigos. No entanto, hoje as queimas de livros não são tão necessárias para o controle ideológico. Em plena era da informação imediata, não há a necessidade de censurar a notícia ou o conhecimento. Como diz Yuval Harari no livro 21 lições para o século 21, basta usar a distração. É fácil hackear a mente humana através da manipulação de informações e hoje vemos isso claramente com a propagação das fakenews. O meio mudou, mas os fins são os mesmos.
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