O desenho ao lado foi feito em papel Canson A3 com lápis Faber Castell 4B e 8B. Nele, eu retratei um indígena Karajá, ou Carajá, seguindo a referência de foto tirada em 1948 pelo meu tio-bisavô Agenor Couto de Magalhães em expedição etnográfica à Amazônia. Na imagem vemos o homem com um objeto na boca e distintas marcas culturais em sua pele. A relação entre objeto e indivíduo é muito forte e merece a devida atenção. O objeto é um cachimbo, feito com uma semente de Jequitibá, árvores de grande porte que podem alcançar até 40 metros de altura.
As marcas no rosto do indígena também são feitas com a semente, que aquecida a boca com carvão, gera uma cicatriz por queimadura nas bochechas dos homens e mulheres da tribo no formato de círculos paralelos - odemaluli.
Os cabelos também tem significativos culturais que precedem a cicatriz. Quando alcançam a idade de 8 a 10 anos, o cabelo é recortado na forma de uma coroa circular e de comprimento uniforme - chamado de Indjulá. Desse momento em diante, os rapazes deixam o cabelos crescer até alcançar os olhos na frente, e atrás, até alcançar os ombros. É então que os meninos são declarados adultos e recebem a tatuagem característica da tribo. As marcas da semente de Jequitibá.
"Para marcar assim o rosto de cada membro da tribo, de ambos os sexos, os pais aguardam que atinjam a puberdade, quando chamam então um adulto hábil e prático em realizar essas incisões. Usa-se o cachimbo vegetal (walioná, walikokó), do fruto do jequitibá, cuja boca está impregnada de carvão, servindo assim perfeitamente para assinalar os círculos. Feito isso, o operador emprega um estilete de ossso, lascas de pedra (manadjú, dente de pedra), fragmento de concha ou vidro, para dilacerar a carne, que é depois impregnada com o suco do jenipapo ainda verde. Uma vez cicatrizado o corte, a marca torna-se indelével."
"Maloá tem na boca o inseparável cachimbo - walikokó, pende-lhe do lábio inferior o adohó de madeira, muito leve e no pescoço ostenta o colar de missangas de várias voltas, enfeite muito apreciado por todos os índios." ENCANTOS DO OESTE 1944, pg 154
Também para furar o lábio inferior, de onde pende o botoque de madeira, denominado odohó, chamam os pais um especialista, que usa como furador um pedaço de osso de bugio (azõdí). O orifício é feito entre os 6 e 7 anos, somente em meninos. Os desenhos que vão das orelhas aos cantos da bôca, não são definitivos, constituindo simples embelezamento para recepção e festas, pintados com tinta do urucum e do jenipapo." ENCANTOS DO OESTE pg 155.
Os Karajá são populações que vivem nas margens do rio Araguaia, abrangendo os estados de Goiás, Tocantins e Mato Grosso.
"Sistematicamente banida de nossa investigação artística, a cultura mais autêntica e viva da região recolheu-se para os arquivos etnográficos. O que era para ser esteio, viga mestra e estrada luminosa tornou-se curiosidade e folclore para especialistas. Poucos foram os que vislumbraram esse universo." Amazônia Indígena de Márcio Souza, capítulo 2: O impacto colonial na Amazônia. Pg 83.
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