Na paleoantropologia é comum associar fósseis ancestrais humanos ao clima, principalmente durante o período estratigráfico do Pleistoceno (2,5 milhões a 11,7 mil anos) e sua grande oscilação climática. Mas uma questão que fica em aberto, principalmente para os leigos, é como se sabe sobre as mudanças climáticas de milhões de anos no passado? Um importante método está no estudo dos registros de isótopos estáveis de oxigênio em esqueletos microscópicos de foraminíferos que viviam no fundo do mar (popularmente associados à pequenas e elegantes conchas). “Essa medida pode ser usada como um indicador da mudança de temperatura e do gelo glacial ao longo do tempo” (SMITHSONIAN, 2021, tradução do autor). Apesar de sua complexidade, esses registros podem oferecer importantes informações sobre o paleoclima.
Quando unimos esses dados climáticos aos conhecimentos da paleoantropologia, podemos compreender e especular sobre a influência do clima sobre a evolução humana. É nessa comparação que se percebe que grandes acontecimentos da história humana "coincidem" com grandes mudanças no clima. O gráfico a seguir, publicado em artigo no site Human Origins do Museu de História Natural Smithsonian (2021), associa as mudanças climáticas registradas pelos estudos citados acima com as principais características evolutivas humanas.
Figura 5: Curva de isótopos de oxigênio (δ18O) nos últimos 10 milhões de anos
Fonte: Fonte: Smithsonian National Museum of Natural History (2021)
A evolução do gênero Homo e das adaptações que tipificam o Homo sapiens estiveram associadas às maiores oscilações do clima global. Ícones: (a) origens hominíneas, (b) bipedalidade habitual, (c) fabricação da primeira ferramenta de pedra e consumo carne [...], (d) início de mobilidade de longa duração, (e) início de rápido aumento do cérebro, (f ) expansão da expressão simbólica, inovação e diversidade cultural. (SMITHSONIAN, 2021)
O gráfico sintetiza o que será desenvolvido ao longo deste artigo. A evolução humana esteve sempre conectada de forma íntima às mudanças climáticas. Os períodos de maior oscilação climática forneceram grandes desafios à sobrevivência humana que moldaram diversas características da espécie. Como é possível observar, da origem das espécies hominineas (a) ao bipedalismo (b), há um grande intervalo de tempo que corresponde a um período de certa estabilidade climática e um clima quente. A partir do período da pedra lascada (c), há queda na temperatura e o início de uma maior instabilidade do clima. Quanto maior a instabilidade, menor o intervalo entre as principais e mais significativas características evolutivas humanas. Ao final, entre o rápido aumento do cérebro (e) com o surgimento do pensamento simbólico e da cultura (f) a oscilação climática é ainda mais significativa. Estes estudos demonstram que os seres humanos não evoluíram a partir da especialização num único clima, mas pela capacidade de se adaptarem às grandes oscilações climáticas.
É evidente que a ciência é fruto da combinação de diversas pesquisas, de diversas áreas. Uma teoria normalmente é feita através da conexão com diferentes autores, pesquisas e conhecimentos não necessariamente da mesma área de estudo. Estudos da geologia, por exemplo, podem ter grande importância em trabalhos do campo da astronomia, da biologia e até mesmo da filosofia. É essa conexão de conhecimentos que torna a ciência ainda mais bonita!
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