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Foto do escritorFernando Couto de Magalhães

As representações de Vênus na História e o esteriótipo da sedução feminina na arte.

Atualizado: 21 de jun. de 2023


Um tema muito interessante de se abordar na história da arte é o preconceito. Muitas obras, apesar de não terem a intenção de serem preconceituosas ou maldosas, nos revelam muitos sentidos que podem justificar comportamentos sociais complexos. Como por exemplo, o esteriótipo da mulher e o corpo. As representações da deusa Vênus e os esteriótipos criados na arte ao longo dos séculos é um excelente exemplo da construção do corpo da mulher como um objeto de desejo masculino. Não diminuo no entanto, a importância e contribuições feitas pelas artes e pelos artistas a seguir.


Vênus de Willendorf (imagem abaixo), uma das representações artisticas mais antigas da história da humanidade é um excelente ponto de partida. Descoberta na Áustria, a pequena estátua de 11 cm data de 25 a 20 mil anos antes de Cristo. A obra mostra os seios e a vulva da mulher destacados, provavelmente uma referência à fertilidade. A imagem não possui rosto, braços ou pés. A mulher é, seja para a cultura, arte, filosofia ou teologia, o corpo, e a Vênus de Willendorf é a primeira evidência dessa relação do corpo feminino com a sociedade.


Estatueta de Vênus de Willendorf ou Mulher de Willendorf,

A seguir temos variantes da Vênus Pudica. A primeira deusa representada nua enquanto se prepara para um banho. A obra original data o século IV a.C. A escultura mostra a deusa escondendo sutilmente a sua vagina como um apelo erótico. Para o homem, uma mulher completamente nua não é considerada tão sensual quanto uma camiseta molhada, um lingerie ou uma mão bloqueando a visão dos órgãos genitais. A sedução atribuída ao corpo da mulher dá a infeliz origem à expressão 'Doença Venérea' para doenças sexualmente transmissíveis. Vênus, do Italiano Venere. A imagem é a representação da sedução feminina sob o ponto de vista de um artista do sexo masculino.

Cópias da estatua original da Vênus de Praxíteles

Uma das esculturas mais conhecidas da história da arte e reproduzida por inúmeros artistas ao longo dos séculos, a Vênus de Milo é mais um exemplo da representação do corpo feminino como objeto de sedução. A figura exalta as curvas no corpo da deusa e traz um modelo de beleza. A sua perna esquerda pouco elevada e a sua nádega parcialmente a mostra faz um apelo erótico ao feminino. A escultura, possivelmente do século II a.C. serve como modelo das medidas da Miss Universo. Um esteriótipo da mulher fisicamente perfeita, criada por um homem e utilizada até hoje como padrão de medida.


Vênus de Milo em exposição no museu do Louvre na França.

As representações de Vênus são incontáveis. No entanto, uma das obras mais conhecidas é o Nascimento de Vênus do pintor italiano Sandro Botticelli. A imagem mostra a deusa nua, bloqueando a vista das suas genitálias com as mãos (assim como nas obras anteriores), com os seus cabelos soltos ao vento sobre uma concha (simbolo da genitália feminina). Os cabelos longos e soltos tornam-se símbolo da sedução. A mulher passa a se definir pelos cabelos. Realidade que reflete até os dias de hoje. Começamos a entender por que o cabelo é um item tão importante da vaidade feminina.

O nascimento de Vênus de Botticelli.

O pintor francês William Bouguereau do século XIX é um bom exemplo da utilização dos longos cabelos soltos e longos como forma de sedução. Bouguereau também apresenta um modelo feminino sem pelos pubianos e sem divisão vaginal. Um modelo do feminino muito utilizado na pornografia.

As Vênus de William-Adolphe Bouguereau.

A Vênus do artista russo Boris Kustodiev e do artista francês Alexandre Cabanel, ambos do século XIX, também mostram o mesmo modelo da Vênus sedutora e reforçam a relação do cabelo com a sedução. No entanto, o comportamento da mulher retratada é mais 'convidativo' ao sexo.


Boris Kustodiev e Alexandre Cabanel respectivamente.

Em outras representações, temos a figura da mulher deitada sobre a cama com as mesmas características apresentadas nas obras anteriores. Nas obras de Ticiano, Giorgione e Modigliani a sedução é ainda mais explicita e provocativa. O historiador Leandro Karnal define as diferentes proporções do corpo feminino apresentadas em diversos países como a Geografia do Desejo. Na Itália por exemplo, o ventre é mais importante que o seio.


Ticiano, Giorgione e Modigliani respectivamente.

As representações da deusa Vênus por diferentes artistas pelo mundo ao longo dos séculos, mostram a construção do modelo físico feminino sob o ponto de vista predominantemente masculino. O esteriótipo que temos hoje como a mulher perfeita é o resultado de uma longa construção histórica e artística e muito difícil de ser quebrada.

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